1 de abril de 2020

Mensagem para o dia mundial do teatro 2020 [que no fundo é todos os dias]

Por Shahid NADEEM, Paquistão
[Verão reduzida]



O TEATRO COMO SANTUÁRIO

Após uma representação, por parte do Ajoka Theatre1 , de uma peça sobre o Poeta Sufi Bulleh Shah2, um velho, acompanhado de um rapaz, acercou-se do ator que interpretava o papel do grande Sufi3. “O meu neto não está bem; você podededicar-lhe uma benção.”O ator foi apanhado de surpresa e disse, “Eu não sou Bulleh Shah, sou apenas um ator a representar este papel.” O homem disse, “Filho, tu não és um ator, tu és uma reencarnação de Bulleh Shah, o seu Avatar4”. De repente, todo um novo conceito de representação, de teatro, despontou para nós, no qual o ator se torna na reencarnação da personagem que ele/ela está a representar.

Explorar histórias como a de Bulleh Shah, e há tantas em todas as culturas, pode tornar-se uma ponte entre nós, os fazedores de teatro e uma plateia que, mesmo que desconhecedora, pode ser entusiasta.

Enquanto representamos no palco, por vezes deixamo-nos levar pela nossa filosofia do teatro, pelo nosso papel de prenunciadores de mudança social e, ao fazê-lo, deixamos para trás um vasto setor de massas. No nosso compromisso com os desafios do presente, privamo-nos das possibilidades da experiência espiritual profundamente emotiva que o teatro pode proporcionar. No mundo de hoje, no qual a intolerância, o ódio e a violência estão de novo em ascensão, o nosso planeta mergulha cada vez mais profundamente numa catástrofe climática, precisamos de renovar a nossa força espiritual. Precisamos de combater a apatia, a letargia, o pessimismo, a ganância e o desrespeito pelo mundo em que vivemos, o Planeta em que vivemos. O Teatro tem um papel, um nobre papel, para energizar e mobilizar a Humanidade a erguer-se da sua descida para o abismo. O Teatro pode elevar o palco, o espaço de representação, a algo sagrado.

Na Ásia Meridional, os artistas tocam o palco com reverência antes de o pisarem, numa tradição que já vem desde quando o cultural e o espiritual estavam interligados. É tempo de reganharmos a relação simbiótica entre o artista e o público, o passado e o futuro. Fazer Teatro pode ser um ato sagrado e os atores podem, de facto, tornar-se avatares dos papeis que interpretam. O Teatro eleva a arte de representar a um plano espiritual superior. O Teatro tem o potencial de se tornar num santuário e o santuário num espaço performativo.



Tradução: Ricardo Simões
Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana

[Mensagem na íntegra aqui]

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