18 de junho de 2020

POEMAS com TINTA graúdos [quando me penhoraram injustamente todos os meus bens]

Rita Araújo e Marquesa de Alorna num só
POEMAS com TINTA graúdos
!


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QUANDO ME PENHORARAM INJUSTAMENTE TODOS OS MEUS BENS

À Fortuna
Fortuna, que me persegues!
Pequeno triunfo teus:
Eu desejo só vontades,
Tu disputas-me vinténs.
Basta-me o que me deixares,
Quando tudo me levares.
Basta-me esta alma que tenho,
Constante como os penedos;
Bastam-me as águas das fontes,
E a sombra dos arvoredos;
Ponho-me ao fresco no Estio,

E aquento-me, andando ao frio.
Basta-me o Sol, que não podes
Apagar, e à noite a Lua.
Se me tirares a casa,
Irei dormir para a rua.
Sopa, não me dá cuidado,
Tem muitas plantas o prado.
Se o teu rigor se estendesse
A tirar-me o meu tinteiro,
Escreveria nos troncos,
Com um prego, este letreiro:
«Vim ao mundo sem camisa,
Ninguém morrendo a precisa.»

Marquesa de Alorna


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