3 de outubro de 2017

7 OUTUBRO / Sábado

É com muito prazer que trazemos


"TRÊS IRMÃS"
Tríptico por UM COLETIVO (Elvas)
M12 | 2h30min

Texto de Luísa Monteiro, Valério Romão e Rui Pina Coelho a partir de Três Irmãs e de Uma Viagem Pelo Império Russo, de A. Tchekhov

7 OUTUBRO (Sábado)
No Cinema S. Vicente (Paio Pires)
21h




SOBRE
Três Irmãs é um monólogo a três tempos.
Começa in media rés, imediatamente a seguir a ter-se perdido o único comboio rumo a Moscovo. Aí, as Três iniciam uma viagem extática, paralela à linha de comboio: uma jornada longa e fria corpo adentro que conduzirá a uma cidade que ninguém sabe qual nem como é. Cada uma delas é estação dessa viagem ao sonho da capital, portanto, cada uma delas, é um ato distinto:
Irina – Macha – Olga. Uma Matrioska. Como se a família fosse apenas o percurso de tempo-fora, através da vida. Primeiro, a Irina diz “vamos trabalhar, vamos trabalhar”; depois, a Macha grita “precisamos viver, precisamos viver” e, no fim, Olga: “se nós soubéssemos, se nós soubéssemos…”

O projeto começou por ser um tríptico de espetáculos a partir de cada uma das três irmãs de Tchekhov: Irina, escrita por Luísa Monteiro, Macha, escrita por Valério Romão e Olga, escrita por Rui Pina Coelho. Hoje, TRÊS IRMÃS acontece finalmente num tempo e espaço comum, construído a partir do tríptico de espetáculos desenvolvido entre Outubro de 2015 e Junho de 2016, em espaços como a Lx Factory, o Teatro Ibérico e a Escola 60 do Bairro da Ajuda. Assim, este monólogo em três atos é um mergulho no universo tchekhoviano, em que se fala sobre a vida humana e a tentativa de futuro, através do trabalho e do casamento, sempre com a luz do amor ao fundo, através das perspetivas das Três Irmãs, escritas pelos autores acima referidos. Cada um dos atos do espetáculo é totalmente independente do outro, sendo que os “diálogos” entre as irmãs são feitos através do corpo comum da atriz e, naturalmente, pela dramaturgia do espetador.



IRINA
Em Irina, estreada a 21 de Dezembro na Lx Factory, a juventude branca resgatada pela Luísa Monteiro inventa uma casa por cima do que pode ainda restar dos sonhos e do amor. A redescoberta do vermelho nas chávenas de chá, uma cozinha erguida a custo de memórias e entre estórias de criadas de quem não rezará qualquer história, que não esta. Um fio branco de fumo de esperança a dissipar-se, na madrugada que antecede a manhã de trabalho inerte, naquele mesmo lugar em que, à noite, Irina é feliz. Irina podia salvar-se assim, pelo trabalho, podia salvar-se do ninho burguês de perdiz, incendiar a casa que carrega, feita de móveis antigos e pesados.
Não o faz, apenas convida os espetadores a sentarem-se, ocupando os lugares de fantasmas e entretendo o presente para que ele flua até à morte do tempo.
“Pelo trabalho também se justifica a perda daquele comboio feito de palavras! Palavras como ‘beijos’, como ‘ternuras’ ou ‘crianças entre campos de flores amarelas’... essas palavras que irrompem pelas paisagens do amor, como se subitamente se saísse de um túnel e...É preciso impedir a visão das paisagens que nos tiram a fome!”

MACHA
A 21 de Março, no Teatro Ibérico, estreia Macha, a segunda das irmãs, de luz cinzenta, noturna, esquiva. Um gato escondido atrás de uma máscara de mármore. A melancolia de não ter sido possível ter uma vida diferente. A revolta surda e convulsa confessada a um público que lhe é indiferente. Escrita por Valério Romão, num encalce entre Piece of Monologue beckettiano e Madame Bovary, de Flaubert, à procura da linguagem daquela que, das irmãs, estranha a Rússia e os russos, a vidinha e as pequenas rotinas. Primaveril na ironia, no grito negro de clamor pela vida, Macha é do tamanho da imensidão na qual ela se agita, para não deixar os sonhos dormir.
“...e lá vamos, entediados mas carregados, acenando aos passantes com o cuidado de mostrar o melhor que há em nós e, que, desgraçadamente, não faz parte de nós, sempre com medo de nos expormos de dentro para fora...”

OLGA
Por fim, Olga, a professora primária, a irmã mais velha, a que veste azul há-de estrear a 20 de Junho na Escola Básica 60 do Bairro da Ajuda. Olga, escrita por Rui Pina Coelho, segue a vida que lhe ensinaram no Colégio em que agora dá aulas, espartilhando ambições entre palavras, sufocando pelo tédio de que a vida passe sem nunca a poder agarrar. O pensamento de Olga sabe ser silêncio e riso. É sábio e cínico. Olga, a Santa, sacrificando os dias em orfandade em prol do futuro belo que virá. Tripalium! Nem Irina chegou a ir para a fábrica, nem Macha se desfez do teatro. Mas Olga, fechada no Colégio, de cansaço em cansaço, acabou por viver o infinito.
Se ela soubesse...
“Quanto mais trabalho mais morro. No trabalho não há amor. O trabalho não faz tréguas. O trabalho não ama. No trabalho não há amor. O trabalho não dorme. O trabalho nunca tem sede.”


SINOPSE
As Três irmãs tentaram sair de casa. Ir até à estação. Esperar o comboio. Talvez tenham perdido o comboio. Talvez não tenha havido comboio. Talvez não tenham saído. Não saíram. A estação foi desativada. Não sabiam onde era Moscovo. Talvez não haja Moscovo. As Três irmãs fecharam as janelas.

FICHA TÉCNICA e ARTÍSTICA
Texto: Luísa Monteiro, Valério Romão e Rui Pina Coelho | Criação: Cátia Terrinca e Francisco Salgado | Interpretação: Cátia Terrinca | Desenho de Luz: João P. Nunes | Desenho de Som: Alexandre Vaz | Cenografia: Suzana Alves da Silva | Apoio: Jesús Manuel | Design Gráfico: João P. Nunes | Fotografias: Alípio Padilha, Vítor Paiva, Mário Pires, João P. Nunes e Vitorino Coragem | Produção: Ana Pestana e Márcia Conceição | #11 Projeto: UMCOLETIVO

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